Piramidal!

Alguém que usa o sugestivo endereço de email sociedadesecreta123@gmail.com anda inundando minha caixa postal profissional aqui na Unicamp com seguidos convites para um esquema de enriquecimento rápido, a "fantástica máquina de fazer dinheiro".

Basicamente, eu deveria depositar R$ 2 em cada uma das seis contas bancárias que aparecem numa lista no pé da mensagem; apagar o número da conta que está no topo da lista; acrescentar o número de minha conta na sexta posição; e fazer forward da mensagem, com a lista reestruturada, para o maior número possível de pessoas. Podem ser apenas seis, mas podem ser também 250, ou mesmo mil!

As perspectivas de ganho são fantásticas: se cada uma das (digamos) 250 pessoas que receberem meu forward seguirem as instruções do e-mail, eu receberei 250 depósitos de dois reais, o que gera a respeitável quantia de R$ 500. Na rodada seguinte, cada um dos 250 destinatários originais enviará e-mails para outras 250 pessoas, e eu receberei 2502 vezes dois reais, o que resultará na parruda quantia de R$ 125.000. Até a sétima rodada (quanto meu nome cairá fora da lista) o ganho total será de R$ 5x1014, ou 500 trilhões de reais.

(Isso é mais de 100 vezes o PIB brasileiro do ano passado, o que gera a dúvida de se existem tantos reais assim, afinal.)

O problema da massa monetária não é, no entanto, nem de longe o que há de mais esquisito nesse esquema. Pior mesmo é o fato de que, em algum momento entre a quarta e a quinta rodadas, o número de participantes necessário para manter o jogo andando passará a superar a população da Terra.

Ops.

Caso alguém ainda não tenha notado, a "fantástica máquina de fazer dinheiro" não é nada mais, nada menos, que um bom e velho esquema de pirâmide financeira. Pirâmides, também conhecidas como "esquemas de Ponzi" (em homenagem ao idealizador da mais infame delas, o ítalo-americano Charles Ponzi), são investimentos em que o lucro pago aos aplicadores mais antigos sai diretamente da aplicação dos recém-chegados.

Para se manter, o esquema precisa de uma reserva infinita de novos aplicadores -- o que, obviamente, é impossível de se conseguir. Cedo ou tarde, o esquema estoura, e as pessoas que fizeram aplicações imediatamente antes da explosão ficam a ver navios. Claro, é possível lucrar numa pirâmide se você entrar nela logo cedo, bem antes do momento do estouro.

Conheci um cara que conseguiu trocar de carro com os ganhos de um esquema assim. Mas a entrada prematura pode ser vista ou como um golpe de sorte, ou como um ato deliberado de fraude, com o intento de faturar em cima da ingenuidade alheia, e não sei exatamente como a polícia faz para distinguir entre uma coisa e outra. Meu conselho é: não se arrisque.

Pirâmides têm o (dúbio) mérito de serem esquemas de Ponzi "pelados", isto é, sinceros: fica claro, desde o início, que os ganhos dos veteranos não são nada além do que a soma dos investimentos dos novatos.

O "Esquema Ponzi" original, e muitas das versões mais danosas surgidas depois, escondem o fato: você pensa que está investindo em algo que vai agregar valor -- gado, empresas, imóveis -- quando, na verdade, o administrador apenas faz as vezes de guarda de trânsito, manipulando o fluxo do dinheiro, dos investidores "verdes" para os maduros, até a hora em que se esgota o estoque de "verdes".

Numa nota mais profunda, reparo que existe uma suspeita, entre alguns filósofos, cientistas sociais e economistas, de que na verdade todas as instituições humanas (e, no fim, a própria espécie humana) são Esquemas de Ponzi, já que dependem, ainda que apenas implicitamente, do pressuposto de que algumas coisas -- seja o PIB, a população, o número de trabalhadores com carteira assinada, a produção de alimentos, etc. -- são capazes de crescer infinitamente ao longo do tempo. Há algumas especulações sobre como escapar dessa armadilha, mas não parece haver nada de definitivo a respeito, no momento.

Por fim: e-mail da tal "sociedade secreta" vem assinado por um certo Nelson Pires mas, curiosamente, entre as iniciais dos supostos donos das contas a serem beneficiadas pela rodada do esquema a que fui convidado a aderir, não há nenhum "N.P.", mas há um F.J.K.P. Será a mulher dele?

Bem, seja ele quem for, espero que o sr. Nelson e sua família, se de fato existem, não tenham conseguido prejudicar muita gente. E que parem de importunar os outros com sua "sociedade secreta" da "máquina de fazer dinheiro".

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