Olhando para o alto e para trás

Esta semana tem sido cheia de pequenos aborrecimentos. Primeiro a torneira da lavanderia lá de casa começou a pingar, depois a máquina de lavar quebrou e, agora, o piso de cerâmica da cozinha explodiu com o frio da última madrugada. Mas aí, quando começo a ficar chateado e a achar que o universo tá de sacanagem comigo, a Nasa solta isto aqui:


Esta imagem (acho que, clicando, dá para ampliar) é o "Campo Extremamente Profundo", ou XDF, para simplificar, produzido pelo Telescópio Espacial Hubble. Ela foi obtida reunindo-se luz acumulada ao longo de dez anos pelo telescópio, a fim de registrar a impressão de 5.500 galáxias, a mais distante das quais tem um brilho que corresponde a dez bilionésimos da luz mais fraca que o olho humano é capaz de detectar.

E toda essa superpopulação estelar foi encontrada numa janela minúscula do céu, menor do que a ocupada por uma lua cheia. O infográfico abaixo mostra, em escala, a área do XDF comparada à ocupada pela lua:


Quer dizer, se você consegue cobrir a lua cheia com um dedo, o XDF é menor que uma unha. E lá estão, pelo menos, 5.500 galáxias. Mas isso não é tudo: como sempre que olhamos para o céu estamos, de fato, olhando para o passado -- já que a luz viaja à conhecida velocidade de um ano-luz por ano -- as 5.500 galáxias do XDF são, também, muito antigas. Quanto? Bem, algumas delas têm 13,2 bilhões de anos.

É um número impressionante, mas se torna mais impressionante ainda se nos lembrarmos que o universo como um todo tem 13,7 bilhões de anos. E o planeta Terra, 4 bilhões. Essa imagem mostra coisas que já existiam quando o universo tinha mero meio bilhão de anos -- quando os átomos de carbono que compõem você e eu possivelmente ainda nem tinham sido forjados no coração das estrelas.

Enquanto escrevo isto meu piso continua quebrado, amanhã vou ter de ficar em casa esperando pedreiro, e sei lá quanto isso tudo vai me custar. Tudo isso tem lá sua importância, assim como são importantes o julgamento do mensalão e quem vai ganhar as próximas eleições mas, quer saber? O universo está apenas marginalmente envolvido nessas coisas. Ele não está de sacanagem comigo. Como poderia? Ele está muito ocupado sendo fantástico. Eu é que sou uma besta e não paro o tanto que deveria para prestar atenção.

Comentários

  1. Eu havia falado sobre a imagem de campo profundo:
    http://genereporter.blogspot.com.br/2011/04/hey-hubble-imagem-mais-fantastica-do.html

    É difícil captar todo o real significado disso tudo. Mas é a experiência mais mística e espiritual que tenho. (E não tem nada a ver com imortalidade, onisciência, paraíso, juízo final...)

    []s,

    Roberto Takata

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  2. Faço minhas as palavras do Roberto Takata.

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  3. Carlos, em tempos não tão distantes de hoje, você, com sede à noite, tinha de ir a um rio no breu rezando para não encontrar um predador. Acho que não preciso dizer mais nada.

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    Respostas
    1. Sim, e em dias atuais, no Congo, no Afeganistão, no Sudão do Sul, problemas de alvenaria devem soar quase como alegrias. Mas o egocentrismo humano, a tendência de achar que a dor pessoal de cada um é a maior dor do mundo, é difícil de vencer -- creio que o máximo que somos capazes é de lançar um olhar irônico sobre ele. E nem é todo mundo que consegue fazer isso...

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